1 de fevereiro de 2011

Seis semanas

Agora as roupas vão deixando de lhe servir aos poucos. Hoje umas calças. Ontem foi uma camisola interior. Um body. O gorro que já não passa na cabeça. A minha menina está a crescer e o tempo a passar.
Cada vez me afasto mais do momento do parto, que tanto custou, mas que não quero esquecer. Dizem-me que, eventualmente, todas se esquecem dos momentos difíceis do parto. Mas não sei como é possível apagar da memória as 23 horas (de muito sofrimento) que precederam o momento em que a vi, com os olhinhos inchados e o nariz que logo me fez lembrar uma foto do pai que vira em algum álbum de infância. É o teu nariz. Com a mania que as pessoas têm de dizer que as nossas feições nunca são nossas, mas de outra pessoa qualquer.
Ela nasceu. Saudável, perfeitinha, bonitinha e, como se viria a comprovar mais tarde, calminha. Durante as aulas de ginástica pós-parto, quando a deixo com as amas que o centro disponibiliza para cuidarem dos rebentos, devo ser a única mãe que ainda nunca teve de interromper a aula para confortar o bebé chorão. Dá-me um certo orgulho e, confesso, alívio. Durante o primeiro mês foi difícil habituar-me à ideia de que agora já não sou só eu. Agora é ela. E depois eu. Isto se não vier outra coisa qualquer antes. Como a Família. Primeiro ela. Depois a família. Depois, então, eu. Admito que foram algumas as vezes em que me deixei vencer pela frustração. Mas à medida que ela cresce, que eu vou aprendendo os ritmos dela, que os vou acertando com os meus e fazendo uns ajustes, à medida que vou recebendo sorrisos marotos de quem só agora aprende a sorrir e lhe tento roubar mais alguns com piadolas sem jeito ditas com aquela voz que as pessoas fazem quando estão a falar com bebés, à medida que a roupa lhe vai deixando de servir e sinto que estou a criar um ser que vai aumentando de peso com o meu leite e que estou a conseguir fazer mais do que apenas ajudá-la a sobreviver, à medida que ela vai dormindo bem de noite e eu vou ganhando as batalhas do berço, à medida que tudo isto acontece, então todas as frustrações e inquietações se transformam nesta alegria inexplicável, nesta paz de espírito imensa de saber que a tenho junto a mim. E isto é tão bom.

3 comentários:

  1. Espero que a Hora da Sesta continue a proporcionar-te (e a nós) momentos como este, de boa leitura. Gostei muito. Fez-me lembrar quando os meus eram pequeninos. E como o tempo passa depressa. Continua. Vou ser tua leitora :-) Beijoca grande. Paula

    ResponderEliminar
  2. Volta sempre, Paula! :) Um grande beijinho.

    ResponderEliminar
  3. Olá Monia,

    Já tinha ouvido dizer que escreves muito bem e após ler este teu blog reafirmo... Até fiquei emocionada... Parabéns e obrigada pela partilha... Beijinhos

    ResponderEliminar